Um ano de guerra
Hoje assinala-se o primeiro aniversário da invasão da Ucrânia por forças russas: foi há um ano que Vladimir Putin ordenou a tomada de um país soberano, com a ténue justificação da libertação dos territórios separatistas da Donbass.
Há um ano, o panorama parecia adverso e, tanto quanto sabemos, Putin apostava em conseguir tomar Kyiv em poucos dias. Provavelmente, não seriam muitos os que previam que a Ucrânia resistisse tanto tempo. No entanto, ainda esta semana, vimos o presidente
No início da invasão foram muitos os avanços russos. Porém, desde então, os ucranianos forçaram a retirada de todas as tropas invasoras que se dirigiam a Kyiv, fizeram uma contraofensiva relâmpago, a norte, que lhes permitiu recuperar quase todo o Oblast de Kharkiv e outra, a sul, que lhes permitiu avançar até à margem oeste do Dnipro e libertar Kherson, agora um dos maiores focos dos ataques russos.
Ao invés de uma rápida e incontestável vitória russa, a guerra encontra-se hoje, na prática, num impasse. O mérito da resistência é, evidentemente, dos corajosos soldados que diariamente colocam as suas vidas em risco pela defesa da Ucrânia e de todos os ucranianos que, em cada rua de cada povoação, colocam entraves ao avanço das tropas russas. Putin e os oficiais das forças armadas russas não esperavam tamanha determinação e orgulho patriótico da parte dos ucranianos. Porém, houve outro fator de relevo que os apanhou de surpresa: a rápida cooperação e a agilização de meios entre os países da UE e da NATO, que, finalmente, decidiram não ficar a olhar, letárgicos, para mais um episódio de agressão russa.
Através de múltiplas sanções, o Ocidente apontou à economia da Rússia, tentando travar a sua indústria bélica e pondo em causa a capacidade do Estado russo equipar devidamente as suas tropas. Enquanto lesou as forças armadas russas, forneceu continuamente armas e equipamento à Ucrânia. Desta forma, ajudou a que o exército ucraniano, menos numeroso, estivesse melhor preparado do que os agressores, equilibrando um campo de batalha que, originalmente, parecia inclinado.
Ao mesmo tempo, acelerou-se a oficialização da Ucrânia como candidata à entrada na UE, o que facilitou a atribuição de fundos ao esforço de guerra e, espera-se, terá contribuído para a motivação dos ucranianos, agora com uma perspetiva concreta de como podem prosseguir o rumo sociocultural que, manifestamente, desejam para o seu país.
Assim, podemos, em geral, avaliar positivamente a influência da UE e da NATO no decorrer da invasão. Tal não significa, contudo, que a atuação do Ocidente seja perfeita e, no âmbito de aprofundar o continuado apoio à Ucrânia, há trabalho por fazer.
As sanções à Rússia foram inicialmente impostas a uma velocidade estonteante, mas a já habitual lentidão dos processos legislativos a nível europeu (que, muitas vezes, se deve à absurda necessidade de unanimidade no Conselho da União Europeia) faz com que novas sanções não consigam ser acordadas ao mesmo ritmo que os oligarcas russos se adaptam às já existentes. Ainda que, com o especial foco das sanções na capacidade militar russa, Putin tenha encontrado muitos obstáculos em equipar as suas tropas, muitos indicadores apontam para que a economia russa não tenha sofrido tanto quanto se esperava previamente.
O Instituto de Finanças Internacionais, por exemplo, chegou prever que a economia russa contraísse 15% em 2022. Tanto quanto sabemos, essa contração foi de apenas 2,1%. Além disso, muitos dos oligarcas apontados por Alexei Navalny como estando alinhados com o governo russo continuarão, provavelmente, a sair ilesos depois do 10.º pacote de sanções, que se espera ser anunciado brevemente. Aqueles que já foram sancionados facilmente encontram formas de contornar as novas restrições através dos países vizinhos da Rússia. A UE tarda em encontrar formas eficazes de responder.
Há um ano, Putin provavelmente pensava que estava a embarcar numa curta aventura para, de forma fácil, solidificar o seu poder. Hoje, pode, no máximo, ambicionar uma vitória de Pirro. No entanto, até esse resultado seria um golpe devastador aos valores democráticos e humanitários que pretendemos defender, assim como à unidade de um estado soberano e à autodeterminação de um povo que tenta preservar a sua identidade cultural. Para evitar um desenlace indesejável, temos de acelerar os esforços possíveis, a nível europeu, de proteção da integridade territorial da Ucrânia.
Slava Ukraini!